domingo, 26 de novembro de 2017

Realidade

Dizer que levei quase 29 anos pra entender o relacionamento entre meu pai e eu pode ser um exagero, mas, hoje percebo que grande parte da minha energia mental nos últimos anos foi dedicada a lidar com essa pequena e importante parte da minha vida. Lidar não é exatamente a melhor definição, visto que na realidade, nossa relação sempre foi caracterizada por apagar incêndios quando nossas ideias divergentes se tocavam e longos vazios, períodos de meses que mal tínhamos notícias da vida um do outro.

Sempre pensei que eu aceitava meu pai exatamente como ele é e que, as coisas que esperava dele - que fosse mais presente, mais amigo - eram apenas o básico, quase que uma exigência do lugar que ele ocupa em minha vida. Agora entendo que essa papel ele nunca esteve apto a desempenhar e, honestamente, creio que ele nunca esteve e nem mesmo quis.

Essa compreensão dói um pouco, mas, tem ajudado a entender porque acabamos nos distanciando tanto depois que deixamos de viver sob o mesmo teto há quase 16 anos. Eu cresci, segui meu caminho enfrentando as dificuldades e facilidades comuns a essa vida e tenho consciência de que nem sempre optei pela direção que ele achasse mais certa ou menos perigosa. Aliás, ele não estava aqui para orientar e tudo que eu pude fazer, ironicamente, foi ir vivendo e experimentando e lidando com as consequências de minhas próprias decisões. Acreditando, lá no fundo, que estava sob seu olhar, seguindo um plano que embora não tivesse sido dito, estava implícito na educação que tinha recebido até então.

Agora entendo que ele não estava ali. Não por maldade, talvez por omissão e com certeza por incapacidade. Como dizem por aí, cada pessoa oferece apenas aquilo que tem, até onde pode e como pode. E diante disso, só posso ser grato pelo cuidado a mim dispensado quando esse cuidado era realmente necessário.

E hoje, seu maior presente de aniversário é a compreensão do valor de se viver a própria vida, seguindo o próprio caminho de cabeça erguida e com a certeza de que cada um é único com um propósito exclusivo. Claro, sem esquecer o respeito ao próximo que as vezes significa também, não caminhar junto, porque isso é respeitar seus próprios limites.

Dessa forma, hoje aceito o pai que tive e tenho nessa vida. Que cuidou e zelou quando necessário mas que torna sua própria vida um exemplo. E aceito que ele não é meu melhor amigo, que ele não me entende e que não consiga fazer parte do universo do qual eu faço parte. Agradeço, enfim, pelas raízes proporcionadas por ele quando esse foi seu papel, que são profundas e fortes o suficiente pra demonstrar já inúmeras vezes capazes de suportar qualquer tempestade que a vida ofereceu.

Afinal de contas, depois de tudo e tanta coisa, sigo forte e feliz. Vivendo meu próprio caminho.

Obrigado pai!

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