quarta-feira, 9 de março de 2016

Eles e eu - minha família

De tantas formas de amar que existem nesta terra, ao longo de minha vida conheci alguns: de mãe, de pai, de amigo, de vô e vó, de tios, padrinhos... Mas, dentre minha família, o amor nunca foi fácil. Não que as pessoas não expressem, muito pelo contrário, é uma família profundamente afetuosa. É que uma de suas expressões sempre foi o questionamento, o embate, a busca por tornar o outro cada dia melhor.

As vezes, perdemos a medida, humanos que somos, e parece que tudo desanda. Palavras duras são ditas, atos falhos são evocados e a mesa da cozinha vira palco de verdadeiros embates. Nem sempre é fácil e quase sempre, parece cena de novela mexicana com lágrimas, palavras pesadas e portas batendo. Mas, invariavelmente, não falta ao final a conciliação. O afeto garantido, gargalhadas e a certeza de que nada é mais importante do que ir além.

Nesse sentido, por crescer e me tornar adulto nesse ambiente onde tudo, absolutamente tudo, deve e precisa ser dito, por vezes acabo sendo taxado de chato. Deus sabe que me esforço pra não perder a medida e que me culpo muito quando perco o limite e acabo defendendo como um fanático um determinado ponto de vista. 

Mas, no final, é apenas a vontade de ir além. De resolver ou de pelo menos analisar as questões que a vida me coloca e coloca à todos. Um desejo latente de alcançar um novo patamar e realmente ser uma pessoa melhor.

Por vezes sinto que sou interpretado como arrogante. Ou mesmo, como uma fraude. O que é triste porque eu tenho plena consciência de minhas falhas - e quando não tenho, gosto sim de ser chamado à atenção - e não me vejo como um modelo, um exemplo, um caminho confiável, apenas tento exteriorizar o melhor de mim ou, ao menos, o melhor que pretendo alcançar um dia, com a graça de meu Pai.

Sei que não sou o diferentão-barroco, o único ser na terra que tem essa preocupação, filhotinho de Buda e etc. Por isso, nos últimos tempos tenho pensado muito sobre as consequências dos meus atos e, ainda assim, nem sempre consigo compreender tudo, onde estou e por quê...

Enfim, a vida é assim né?

quinta-feira, 3 de março de 2016

Aceitar!

Um dos maiores desafios do ser humano, na minha opinião, é conseguir alinhar o discurso e suas ações, tornando-se assim uma pessoa cada dia mais coerente.

Nos últimos meses tenho feito uma profunda reflexão sobre meus princípios, qualidades e defeitos e algumas situações tem me colocado nessa desconfortável posição de ainda não conseguir agir exatamente como acredito. E em situações que esse alinhamento pensamento-ação seria, acreditava eu em minha inocência, completamente espontânea.

Sempre me considerei uma pessoa compreensiva. Tinha como uma qualidade inata aceitar as pessoas como são, independente das características apresentadas. No fundo, vi que não.  Essa postura só era natural quando não era necessária, ou seja, quando a postura do outro soava exatamente como eu pensava também. Logo, mais uma vez me deparei com a grande capacidade do meu egoísmo e narcisismo.

Uma vez que aceitar quem concorda com a gente é algo absolutamente desimportante. O verdadeiro desafio é dialogar com o diferente, colocar-se no lugar de um outro que seja completamente estranho, entender o ponto que incomoda. Não é uma tarefa fácil.

Espero que com o tempo e os desafios que se colocam no meu caminho eu desenvolva essa habilidade. Afinal, minha própria condição mostra desde meu nascimento justamente a importância de aceitar o outro, o diferente, o incômodo. Não nasci gay numa família evangélica e militar apenas para ensinar aos outros a tolerância.

Acho que toda lição é sempre uma via de mão dupla. Aprendemos todos.