No último domingo assisti "Teus olhos meus" (Caio Sóh, 2011) e confesso que a história não saiu da minha cabeça até hoje.
O filme que se desenrola como uma fofa história de amor entre dois homens com uma grande diferença de idade, traz diversos questionamentos sobre como alguns jovens de vinte e poucos anos encaram a entrada na vida adulta com o plus, em nosso caso, das questões relacionadas à sexualidade.
As locações são incríveis, a fotografia é belíssima e os diálogos maravilhosos. Seria mais uma história de amor/conto de fadas - como "De repente Califórnia" que eu amo - não fosse o final arrebatador.
Ao contrário de outros, o diretor optou por apresentar a situação dramática nas duas últimas cenas, deixando toda a carga emocional do ocorrido para nós espectadores. Entendo a linguagem e reconheço o mérito dessa narrativa mais aberta que promove a reflexão.
---Contém spoilers---
Mas, algumas coisas me incomodaram, no seguinte sentido: entendo como certos tabus, especialmente os sexuais são construídos historicamente e que determinados vetos sexuais são permitidos em determinadas épocas. Sem gastar muito, quem não se lembra das aulas de história do agora 6º ano onde tod@s se chocavam com o casamento entre irmãos no Antigo Egito? Ou com o número de esposas de alguns homens de cultura muçulmana, por exemplo?
Claro que o caso entre pai e filho, salvo o mito grego, não me recordo de nenhum. O ponto, no entanto, não é a situação dramática em si. É o fato de que toda a narrativa do filme aponta para a superação, para a tomada de autocontrole na vida, para a maturidade e para a consolidação do amor que, em uma situação tão complexa como a possibilidade - certa, mas que no mundo real deveria ser confirmada por DNA - de o fofo casal ser pai e filho, faz com que vislumbremos toda a transformação do jovem ser perdida por uma crise existencial que seria com toda certeza causada pelos princípios tão arraigados em nossa cultura, oriundos de uma tradição judaico-cristã.
E, ainda, fico me perguntando que impacto esses princípios afetam a construção de nossa identidade enquanto gays, pensando na forma como os personagens encarariam a própria sexualidade diante de um pecado de tal magnitude. E como um espectador desavisado, diante da situação poderia encarar a homossexualidade, recuperando certos preconceitos e taxações.
Pode ser uma análise um tanto exagerada, mas, de onde eu falo - por conviver com pais evangélicos que não aceitam muito bem a minha sexualidade - não seria absurda uma associação homossexualidade - pouca vergonha, que já é feita até por motivos mais corriqueiros, imagina mexendo com um tabu de toda uma civilização?
Assim, fico no meio termo e não creio que chegue a alguma conclusão a respeito: de um lado amei a história até a fatídica cena e por outro, me preocupo com análises distorcidas que possam ser feitas diante da situação apresentada.
Ainda bem que assisti "Hoje eu quero voltar sozinho" em seguida, que amenizou bastante o conflito interno.
Abraços!
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